Estive mais de duas horas a escrever e apagar.
Pesquisei, no google, em crianças e Unicef. Não devia tê-lo feito. As únicas palavras que me ocorriam eram "Meu Deus... às crianças não! Como pode alguém permitir isto? Porquê?".
E de repente, perdi-me no meio da tristeza. Não queria um post triste.
Fiz uma pausa. E então, lembrei-me. Do único dia 1 de Junho que ficou gravado na minha memória. Foi há 22 anos.
Últimos dias da 4ª classe.
Tinhamos estado a brincar, no recreio.
No jogo da apanhada, caí. Esfolei o joelho.
Não chorei, porque estava feliz. As aulas iam terminar dali a alguns dias. Estava calor e eu gostava do Diogo (Ainda hoje, sei de cor o nome dele. Inteirinho). O primeiro amor.
Entrámos na sala e a professora perguntou-me o que era aquele Kleenex, colado com fita-cola, no meu joelho. Pediu-me para ver a ferida.
Olhou, dirigiu-se a uma das meninas mais velhas da sala e pediu-lhe para me acompanhar ao hospital. Ali, mesmo ao lado. A minha mãe estava à nossa espera.
Cinco pontos. Para não doer, apesar da anestesia, cantei alto. Ao menos, à excepção de mim própria, toda a gente se riu naquela sala.
Regresso à escola. Na sala, depois de uma recepção comovente, a professora pediu-nos que escrevessemos um texto sobre o dia mundial da criança.
O título era "Ser criança é..."
Não sei porquê, mas a maior parte do que escrevi, mantém-se aqui dentro com uma nitidez impressionante.
Foi mais ou menos isto:
" Ser criança é...
É como ser uma sereia, deitada na areia.
É como ser uma baleia, que é a rainha do mar.
É como ser uma árvore, cheia de frutos maduros nos ramos.
É como ser um livro, cheio de histórias de encantar.
Ser criança é... ser feliz."
As palavras, continuam aqui. A cicatriz, também.
O "Oh, Sofia!" acompanhado de um sorriso espantado da professora, quando acabei de ler o que escrevera.
O olhar que encontrei de volta quando olhei para o Diogo...
Queria tanto, como quero agora, que toda a gente, no mundo inteiro, seja... criança.
Feliz dia para todos.
Bom dia para todos mesmo.
E para ti especialmente.
Um abraco da Beira.
De
S a 1 de Junho de 2006 às 14:39
Obrigada, A. Cardoso. Um abraço enorme para a Beira.
De
on a 1 de Junho de 2006 às 10:47
Julguei que tinhas resolvido crescer um bocadinho...
De
S a 1 de Junho de 2006 às 14:39
Como cresci "um bocadinho" antes do tempo, reservo-me o direito de não crescer mais, por enquanto. Se me permite V. Exa, claro... :)
De
M a 1 de Junho de 2006 às 11:40
Pois é, Sofia, o pior é que há quem cresça com tanto sofrimento dentro e sem perceber que esse sofrimento não veio deles mas dos adultos que lho impuseram que os copiam, esquecendo-se de que ser criança teria sido bom sem esses adultos horríveis com quem se querem parecer. Um beijo para ti.
De
S a 1 de Junho de 2006 às 14:42
É por isso que é tão importante quebrar o ciclo. É por isso que, de todas as atrocidades que se cometem, as piores, na minha opinião, são as que lesam uma criança. Qualquer que seja a idade de quem a tem dentro de si. Um beijo, M.
De
Carmen a 1 de Junho de 2006 às 13:22
Agora é a minha vez de dizer: "QUE TERNURA"!!
Desejo-te que a criança dentro de ti seja infinitamente feliz!!!!!
De
S a 1 de Junho de 2006 às 14:44
Também eu, Carmen. :) E todas as outras. A tua também. :) Bjs
De
Lady Ana a 1 de Junho de 2006 às 19:12
Olha lá minha ursa...nem um comment no reactivo??????????????
estou com vontade de te esganar!
Mas como é dia da criança, perdoo-te, deves ter ficado todo o dia no recreio....
De
S a 1 de Junho de 2006 às 20:43
Olha quem fala!!! Tu leste o meu post, ao menos? :)
Ora viva Cara Sofia...
Bom, aquela lenga-lenga que diz que crianças somos todos, mesmo sendo uma frase batida, não deixa de ser uma grande verdae. Até porque, se assim não fosse, seríamos ser desprovidos de quaisquer sentimentos e situações da Unicef, como as que mencionou, seriam-nos indiferentes. Felizmente, é essa suposta criança que existe dentro de nós que nos causa tristeza quando vemos que, em plena civilização moralista e hipócrita, continuam crianças a sofrer um pocuo por todo o lado.
Óptimo texto, ou não fosse o mesmo sentido e verdadeiro. Gostei, e até sorri, tal e qual como a criança que ainda existe dentro de mim.
Um abraço...
SHAKERMAKER
De
Lady Ana a 2 de Junho de 2006 às 08:48
és mesmo ursa!
achas que não li o que escreveste????????????
Há meses a fio que fazes parte dos meus favoritos e agora mandas-me uma dessas????
....estou com um traumatismo!....
e tu, minha rata desmembrada, és a culpada!
De
S a 2 de Junho de 2006 às 12:51
Só por esses elogios, vou linkar-te. :))
Castigo. :)
De
M a 2 de Junho de 2006 às 10:48
Gostava que tivesse sido ontem, mas não consegui. Está lá hoje... Em tua honra.
Bj
De
S a 2 de Junho de 2006 às 12:53
M. ... Como é que...? Magia? Obrigada. :)
De
M a 2 de Junho de 2006 às 13:47
De nada, foi um prazer. Eu sabia que devias gostar desta historinha. São coisas que vamos sentindo, não é?
De
S a 2 de Junho de 2006 às 14:06
:)
De
S. a 3 de Junho de 2006 às 00:43
Espantosa a tua história.
Espantoso como te lembras de todos os pormenores.
Espantosa Sofia.
De
S a 3 de Junho de 2006 às 12:42
Assim não vale... :)
Obrigada, S.
De
Jaime a 3 de Junho de 2006 às 14:39
É bonito o post. :-)
De
S a 3 de Junho de 2006 às 15:17
Obrigada, Jaime. Também gostei do dos bichinhos de conta. :)
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