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É só impressão minha, ou aquilo parece mais um dragão que um leão?
...
E depois, houve um sinal. Juro que não fui eu que inventei. Aconteceu mesmo. Eu vi.
Aquilo É um dragão... E veio do céu. O céu deve ser respeitado, não sei se sabem.
Pode vingar-se com trovoadas e coisas dessas. E eu tenho medo de trovoadas.
Evidentemente, a questão de ganhar ou perder não tem a mínima importância.
É que adoro azul.
...
Não sei. Vou pensar melhor. Mas estou tentada.
(Mas Benfica, NUNCA! Só mudo uma vez.)
Acho óptimo que não comentem.
Acho mesmo bem.
Aliás, acho que até é muito melhor assim.
No entanto, devo advertir-vos:
Eu não sou vingativa.
Mas ouvi dizer que o S. Pedro é.
E deve-me alguns favores.
Sempre achei que por trás de quem implica com os "Dia de" estava, obrigatoriamente, um qualquer recalcamento. Daqueles à séria. Profundos e assim.
Não houve "Dia de" em que não me lembrasse de Freud, portanto.
O que nem é mau de todo, porque Freud é bom. Dizem que o Actimel, também. Mas eu prefiro Freud.
Até porque nunca impliquei (Genuinamente, claro! Porque houve sempre alguns "Dia de" com os quais ninguém implicava e eu, de alguma forma, tinha de implicar com esses para convencer alguém a fazer o mesmo.) com nenhum. (Este final, depois do que acabei de confessar... adiante.)
Como dizem que "pela boca morre o peixe" e eu, em alguns dias, me considero uma verdadeira salmona (não faço ideia do que me passou pela cabeça para dizer isto, mas adiante outra vez.), que, como toda a gente sabe, morre porque fuma (Porque todos os salmões fumam. E quando acaba o tabaco fumam-se uns aos outros)...
(Por falar nisso... vou só ali ao frigorífico ver se ainda há...)
(Não! Vou deprimir.)
Onde é que eu ia?
Ah, pois...
Desejo muitos namorados felizes a este dia.
(Dia tão parvo)
"Your softly spoken words,
Release my whole desire,
Undenied,
Totally. (...)"
Undenied...
What a beautiful word.
Já decidi.
Porque apesar de tudo, mesmo depois do "Não" convicto que defendi no último referendo, optei por ponderar novamente.
E compreendo que quem não tenha os mesmos princípios que eu se sinta tentado, ou mesmo decidido, a votar no sentido contrário. Alguns argumentos do "Sim" (quase todos, de facto) são muito válidos. Não obstante, concluí que não são esses argumentos que o "Sim" do referendo vai validar.
Um excelente defensor do "Sim" pediu-me para ler. Eu li. Os comentários que me mereceu a leitura estão a bold.
*****
Carminho & Sandra
Carminho senta-se nos bancos almofadados do BMW da mãe. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe conduz o carro e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito na Lapa ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos.
Estão juntas. A caminho de Espanha.
Isto nunca vai deixar de acontecer. Espanha não é escolhida apenas pelas condições. É uma forma de manter o anonimato. Uma forma de, aos olhos das amigas da mãe de Carminho, ser mantida a imagem que pretende manter.
(Mais abaixo, na cidade)
Sandra senta-se no banco cor-de-laranja do autocarro 22 que sai de Alcântara. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe está sentada ao lado dela. Encosta o guarda-chuva aos pés gelados e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito em Alcântara ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de casa de Uma Senhora. O BMW e o autocarro 22 cruzam-se a subir a Avenida Infante Santo.
Carminho despe-se a tremer sem nunca conseguir estancar o choro. Veste uma bata verde. Deita-se numa marquesa. É atendida por uma médica que lhe entoa palavras doces ao ouvido, enquanto lhe afaga o cabelo. Carminho sente-se a adormecer depois de respirar mais fundo o cheiro que a máscara exala. Chora enquanto dorme.
Sandra não se despe e treme muito sem conseguir estancar o choro. Nervosa, brinca com as tranças que a mãe lhe fez de manhã na tentativa de lhe recuperar a infância. A Senhora chega. A mãe entrega um envelope à Senhora. A Senhora abre-o e resmunga qualquer coisa. É altura de beber um líquido verde de sabor muito ácido. O copo está sujo, pensa Sandra. Sente-se doente e sabe que vai adormecer. Chora enquanto dorme.
Há quem não chore. Mas nem é por aí. Se é assim tão mau, porque não procurar outra solução? Evitar, ou assumir as consequências do que fazemos, por exemplo.
Carminho acorda do seu sono induzido. Tem a mãe e a médica ao seu lado. Não sente dores no corpo mas as lágrimas não param de lhe correr cara abaixo. Sai da clínica de rosto destapado. Sabe-lhe bem o ar fresco da manhã. É tempo de regressar a casa. Quando a placa da União Europeia surge na estrada a dizer PORTUGAL, Carminho chora convulsivamente.
Sandra não acorda... E não acorda... E não acorda... A mãe geme baixinho desesperada ao seu lado. Pede à Senhora para chamar uma ambulância. A Senhora não deixa, e responde – Ponha-se daqui para fora com a miúda, há uma cabine lá em baixo. E livre-se de dizer a alguém que eu existo!
A mãe arrasta a Sandra inanimada escada a baixo. Um vizinho cansado, chama o 112 e a polícia. Sandra acorda no quarto 122 dias depois. As lágrimas cara abaixo. Não poderás ter mais filhos, Sandra, disse-lhe uma médica, emocionada.
Sai do hospital de cara tapada, coberta por um lenço. Não sente o ar fresco da manhã. No bolso junto ao útero magoado, a intimação para se apresentar a um tribunal do seu país: Portugal.
O que pode acontecer às Sandras, aplica-se às Carminhos. Nenhuma intervenção é isenta de riscos. Nenhuma.
Quanto à intimação, sabem quantas mulheres foram presas por terem feito feito um aborto, em Portugal? Nenhuma.
Decidi.
Quando me perguntam se acho que o acto consciente de eliminar uma vida indefesa (independentemente do tempo de vida que tenha), cometido sem um motivo de força maior, deve deixar de ser considerado crime, a minha resposta é, inequivocamente, NÃO.
(Se eu adoptar um estilo de vida que consista em roubar, mesmo que seja para alimentar os meus filhos, ROUBAR deixa de ser um crime passível de penalização? Não me dizem para ir trabalhar? Pode não ser a mesma coisa, mas há semelhanças. A maior diferença, no entanto, é que o acto de roubar, por si só, não mata.)
Dizem que és a minha cara.
Muitas vezes, quando olho para ti ou falo contigo, percebo porquê.
Há sete anos, mal conseguia disfarçar a vontade de olhar para ti, de te tocar pela primeira vez.
Foi a última vez que te senti dentro de mim, mais na barriga do que em qualquer outra parte do meu corpo. Estava a poucas horas de conhecer a vida na sua forma mais irreversível.
...
Acabas de entrar no meu quarto, ensonada. Deitas-te na minha cama. Aconchego-te. Não viste isto. Mas sei que o sentes. Porque faço questão de te mostrar e dizer. Todos os dias. Acabei de o fazer. E fá-lo-ei até ao meu último.
Adoro-te, Maria.
PARABÉNS!
(E aquilo de seres parecida comigo... Ou esperamos mais uns anos, ou vou ali partir dois dentes...)
Acho que vou ali.
Já volto.
Demasiado sensível à sensibilidade.
As concentrações têm destes efeitos.
Concentramo-nos muito e a coisa acaba por concentrar-se em nós.
Não necessariamente por esta ordem.
...
Ok, dura mais. Mas dá imenso trabalho a diluir.
...
(Mas por que raio estava eu a tentar fazer uma analogia gira e fui lembrar-me de líquido de refrigeração e de detergente para a loiça?!)